Pare, Olhe, Escute!
Há um trem passando por várias estações. Sabemos que esse trem irá seguir seu curso até que encontre seu paradeiro final ou um obstáculo à sua evolução. Ele não se detém, até o momento, em qualquer estação ou por tentativas desesperadas ou arrogantes de bloqueá-lo com o conhecimento que temos. O trem nos ameaça, pela sua força destrutiva, nos humilha, por não se entregar à sapiência humana, nos amedronta, por sua misteriosa carga.
A nós, nos cabe parar, olhar e escutar.
Parar para nos distanciarmos do trem, das pessoas amadas a quem poderíamos ser um condutor do trem, para nos recolhermos em nossos lares, em nossos corações. É preciso parar! Parar, em nome da Vida, o bem mais precioso que nos foi ofertado. Parar, em nome do Amor, o sentimento que nos leva a proteger nossos amados. Parar, em nome de nós mesmos, para refletirmos o que significa esse momento, que impõe à humanidade uma pausa na roda da Normose (termo cunhado por Pierre Weil e Roberto Crema e descrito no livro desses dois autores e Jean-Yves Leloup – “Normose: A patologia da normalidade”) que todos girávamos, sem consciência do quanto ela nos arrastava para longe de nossa verdadeira Natureza.
Olhar, distanciando-nos da rotina imposta de trabalho e consumo, para ver, enxergar o que é verdadeiro. É essencial olhar!Olhar, em nome da sanidade mental, a clareza que o nosso Eu mais profundo nos traz ao nos recolhermos em nós mesmos. Olhar, com a devida distância, daquilo que nos atraia e nos enfeitiçava. Olhar, dando nenhuma importância aos embates políticos que somente nos fazem esquecer de que somos feitos da mesma matéria das estrelas e que o ódio não constrói nações verdadeiras, mas apenas aldeias antagônicas. Olhar para o que é essencial: a Vida, a Compaixão, a Caridade. Olhar para dentro de nós mesmos para reconhecer o milagre que foi nossa transformação nos seres que somos, oriundos de uma semente. Olhar para o aqui e agora, a fim de reconhecermos o que realmente tem valor para nossa Existência. Olhar para o todo e todos e lembrarmos que somos Um com o universo.
Escutar, verdadeiramente escutar nossos amigos, companheiros, em suas aflições e necessidades. Escutar a voz interior, que nos indica o caminho da libertação de nossos desejos egocêntricos, de nossa soberba, de nossas mazelas, de nossos medos. Escutar a Natureza, em seu canto harmônico e suave. Escutar o vento, que nos traz o ar purificado e benfazejo. Escutar o Divino de nosso coração, que nos acolhe sempre, nos nutre, nos estimula à verdadeira Vida e fala com a voz de Mãe e de Pai. Nada mais edificante do que ouvi-Lo. Nada mais sublime do que o contato com o Divino. Esse contato se dá na escuta do Silêncio.
Parar, olhar, escutar.
Três ações fundamentais neste momento e que requerem continuidade quando o trem chegar ao seu destino. Além disso, é preciso agir. Agir de acordo com o que conferimos e concordamos com o nosso olhar ético, desapegado de nossos desejos egóicos. Agir de acordo com o que ouvimos e escutamos de nossa Voz interior.
Esta parada que o trem nos obriga, será, então, gloriosa e nos aproximará de nossos semelhantes, da Natureza, de nossa verdadeira essência e do Universo!
Edson Mattos
(Vice-presidente do Accordare – www.accordare.org.br e sócio da BEM Human Consulting – www.bemhc.com.br)