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O tempo: Krono e Kairos

Recentemente, conversando com uma amiga sobre administração do tempo, ela, com saudades, relembrou um workshop dos anos 90, em que o treinamento sobre o tema era abordado com os participantes de maneira diversa da que usualmente, nos dias de hoje, é tratado.

Mais recentemente, a abordagem sobre a administração do tempo visa fornecer ferramentas para que se possibilite eleger prioridades, sobretudo no campo do trabalho. Embora esse aprendizado seja útil  para alcançar resultados esperados pela organização, falta a essa tentativa de solução da angústia de lidar com o tempo, um componente fundamental: a compreensão adequada do papel do tempo em nossas vidas.

Conta minha amiga que o workshop trazia aos participantes a possibilidade de vivenciar o tempo de maneira não mecânica, fora dos circuitos mentais já consolidados para lidar com ele, ou com as coisas que temos de executar dentro de um lapso de tempo. Creio que é o momento de as organizações resgatarem essa forma de lidar com o tempo.

Há muito que se falar sobre o gerenciamento de tempo. Mas, será que o tempo é gerenciável? Será que a compreensão que temos do tempo nos dá condições de nos relacionarmos adequadamente com ele?

Na Grécia antiga, tempo tinha dois significados básicos. O primeiro, implacável, mecânico, diz respeito à maneira pela qual convencionamos contar os anos, as horas e suas frações (minutos, segundos, ou milésimos de segundos), como o mundo da informática e de provas de atletismo exigem atualmente. A esse conceito de tempo dava-se o nome de Kronos.

Kronos é incontrolável, como o passar dos segundos. Nossa relação com ele é de simples observação. Diante dele, somos indefesos, somos incapazes de adicionar ou diminuir um instante ao que foi, ao que é, ao que será. Por isso, talvez, nossa desesperada tentativa de dominá-lo ao avesso. Isto é, como ele é inflexível, exato, quem queira fazer mais, ter mais, relacionar-se mais, divertir-se mais, trabalhar mais, resta apenas a opção de reduzir-se nos limites do tempo, esforçar-se por intensamente fazer mais em menos tempo. Essa tentativa de dominar o tempo às avessas nos reduz a executantes, pois nessa visão parcial e material do tempo tendemos apenas a nos enxergar, nos compreender como fazedores, realizadores daquilo que os outros esperam de nós, ou do que nós mesmos nos impomos pela vontade. Essa condução da vida passa longe da experiência do ser.

A outra concepção de tempo que nos é dada pelos gregos é a de Kairos. Este, por sua vez, apresenta duplo significado. Por um lado, Kairos é “o momento propício”; de outro lado, representa “oportunidade”.

Como “momento propício”, Kairos é o instante único que se abre para a ação certeira e eficaz. A decisão e ações tomadas no exato momento (o propício) resulta em eficácia e no alcance do objetivo.

Kairos, como “oportunidade”, denota a abertura que se apresenta no tempo para que uma ação determinada  possa ser executada.

Kairos, portanto, diferentemente de Kronos, traz uma noção de qualidade. Enquanto sob domínio de Kronos, cabe ao ser humano, apenas reduzir-se, tomando mais ações para compensar a inexorável passagem do tempo, em Kairos, o que se tem é a qualidade da percepção e da ação certeira.

O que é que nos move? O que nos conclama à ação? O que, percebendo nossas vidas percorrendo Kronos, o implacável, é verdadeiramente importante? Como podemos nos favorecer e favorecer nossas relações com o conceito de Kairos? Quais são as oportunidades de nossas vidas que se apresentam e como nós as percebemos? Com que qualidade tomamos ações quando a janela da oportunidade se abre? Como nos preparamos para quando Kairos se apresenta? Como oferecemos a todas as áreas de nossa vida, família, saúde, amigos, sociedade, trabalho, espiritualidade, a atenção às oportunidades para melhorá-las? Que efeito tem o desequilíbrio de atenção e dedicação às diversas áreas?

Deixando essas questões aos leitores, proponho delas tratar nos próximos artigos.

Quanto à minha amiga, ela tem motivos para sentir saudades de um workshop que apropriadamente utilizou o conceito de Kairos para despertar os participantes para tão importantes conceitos, ao invés de introduzir ferramentas que, embora eficientes em Kronos, se mostram ineficazes em Kairos. Está aí um projeto de desenvolvimento que me impulsiona à ação, vislumbrando uma oportunidade proporcionada pelo próprio Kairos.